De Ceará à Bahia, entenda o peso de lideranças políticas do Nordeste no ministério de Lula

Entre os 21 ministros já anunciados pelo presidente eleito, oito são de estados da região

Foto: Agência Brasil

Região decisiva para a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o terceiro mandato à frente da presidência da República, o Nordeste terá forte representação na Esplanada dos Ministérios a partir de janeiro de 2023. Quase 40% dos ministros anunciados até agora pelo presidente eleito são de seis dos nove estados nordestinos. 

Se o anúncio de nordestinos no primeiro escalão do Governo Lula demonstra o reconhecimento à região onde o petista teve as maiores votações proporcionais do País – e, por consequência, às lideranças políticas que encamparam a campanha em cada estado -, ele também dá indícios do olhar que a região deve receber nos próximos quatro anos, apontam cientistas políticos ouvidos pelo Diário do Nordeste

Além disso, destacam os especialistas, é relevante o fato de que parte desses ministros terão nas mãos alguns dos maiores orçamentos da União, com potencial, inclusive, de serem vitrine do Governo Lula. Ex-governador do Piauí – estado que deu a maior votação proporcional para Lula -, Wellington Dias (PT), por exemplo, estará à frente do Desenvolvimento Social, que terá sob seu comando o programa Bolsa Família. 

Já o senador eleito pelo Ceará, Camilo Santana (PT), irá comandar o Ministério da Educação, que teve um aumento no orçamento, incluindo os recursos previstos para a Educação Superior e para a Educação Básica – secretaria que deve ser assumida pela governadora Izolda Cela (sem partido). 

A “CARA” DO GOVERNO LULA

Cientistas políticos ouvidos pelo Diário do Nordeste destacam o fato de que o Nordeste ficou com pastas importantes e que devem ser essenciais para dar a “cara” do Governo Lula. Ou seja, que devem servir de vitrines para o slogan de campanha do presidente eleito, “Brasil do Futuro”.

Uma das principais pastas apontadas para se tornar referência é a do Desenvolvimento Social, que será comandada por Wellington Dias. A retirada do Brasil do Mapa da Fome da ONU, elaborado pela Organização das Nações Unidas, foi uma das principais promessas de campanha de Lula. Atualmente, há 33 milhões de pessoas sem ter o que comer no País, conforme dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia da Covid-19.

A pasta deve ter R$ 198 bilhões à disposição do próximo Governo, conforme prevê o projeto orçamentário de 2023, além de R$ 145 bilhões fora do texto de gastos para continuar o pagamento de R$ 600 do Auxílio Brasil, que deve voltar a se chamar Bolsa Família, e retomar a Farmácia Popular e o Auxílio Gás – todos promessas de campanha do presidente eleito.

O ministério do Desenvolvimento Social era cobiçado pela ex-candidata à Presidência da República, Simone Tebet (MDB). Todavia, a pasta também era uma das prioridades do PT. 

Ainda sob o comando do PT no Nordeste, está uma das pastas que pode ter uma das maiores projeções no cenário nacional: o MEC, que será chefiado pelo ex-governador Camilo Santana. A previsão orçamentária para o ministério em 2023 é de R$ 147 bilhões. 

Ainda que não tenha currículo nesta área, sob a gestão de Camilo, a Educação Básica no Ceará continuou avançando e se consolidando como referência nacional. Processo iniciado pela atual governadora Izolda Cela – idealizadora do PAIC (Programa de Alfabetização na Idade Certa) – desde quando esteve à frente da Secretaria de Educação do Governo Cid Gomes (PDT). Foi durante este período que o ensino público no Estado começou a dar saltos no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

“A contemplação (do Nordeste) nos ministérios, nesses cargos importantes, que dão visibilidade e que vão dar a cara do governo”, destaca Priscila Lapa, doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela ressalta, exatamente, o fato de que são pastas não apenas com visibilidade, mas com grandes orçamentos. “São pastas onde tem orçamento e onde se consegue estabelecer uma conexão direta com a população”, ressalta. “Educação é uma pasta que, sem sombra de dúvida, vai deixar uma marca para o futuro governo, mas também tem toda a expectativa em relação à política de segurança, já que o governo Bolsonaro criou uma agenda que já se observou que não funcionou. Não podemos esquecer também do próprio Ministério da Cultura, que foi uma pasta que teve realmente um desmonte no governo Bolsonaro”, exemplifica, citando algumas das pastas que estarão sob comando de nordestinos. 

“São áreas estratégicas importantíssimas, que vão dar o tom do governo Lula, e estão na mão dessas lideranças nordestinas”, finaliza. 

PRIORIZAÇÃO DE QUADROS POLÍTICOS

Apesar dos principais nomes serem mais ligados à ala política do PT, especialistas avaliam que a medida é importante devido às articulações que darão sustentação à governança. Além disso, eles destacam que os técnicos são mais essenciais nas secretarias das pastas. É como avalia a cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luciana Santana.“O primeiro escalão tem uma cara mais política do que técnica por conta das próprias articulações políticas que são feitas e daquilo que o Governo quer mostrar como vitrine”LUCIANA SANTANACientista Política e Professora da Ufal

“É importante ter essa representação política e, claro, reforçar o reconhecimento do governo eleito em relação a ex-governadores e políticos e técnicos que tiveram uma importância muito grande em gestões estaduais ou mesmo que ocuparam, em algum momento, cargos importantes”, complementa.

A habilidade política dos cabeças dos ministérios também é destacada pelo doutorando em Ciência Política da Universidade de Brasília (UNB), Robson Carvalho, para trazer mais recursos para a região em diversas áreas – tendo em vista que na Esplanada haverá também pastas importantes ocupadas por pessoas de outras regiões do País.

“As melhorias (para a região) vão depender da articulação dos ministros para as pastas. Por exemplo, se para o ministério das Cidades não for indicado alguém do Nordeste, um ministro do Nordeste pode, em articulação com outros ministros, conseguir algo importante para seu estado, como Minha Casa, Minha Vida, saneamento básico”, pontua.

Além disso, ele acrescenta que o corpo técnico nas secretarias dos ministérios deve fazer a “retaguarda” dos titulares. Todavia, ele pontua que, para os projetos darem certos, é necessário que nos estados, os governadores eleitos e prefeitos, saibam as suas prioridades.“É fundamental que os governadores dos estados do Nordeste, os prefeitos das capitais saibam para onde querem ir e tenham projetos. Se você não tem projeto para bater na porta do ministério, mesmo o ministro querendo ajudar, ele pode não conseguir implementar aquele projeto. (..) Os ministros agem em parceria com os políticos locais, para fazer o recurso ser liberado e bem aplicado”ROBSON CARVALHODoutorando em Ciência Política da UNB

OLHAR PARA AS ESPECIFICIDADES DO NORDESTE

A cientista política Priscila Lapa lembra que a posse de governos petistas já traz consigo expectativas de uma maior atenção às especificidades do Nordeste. Áreas como a infraestrutura e o desenvolvimento econômico passam a ganhar destaque – e mais recursos – na região. 

“Não só pela questão eleitoral, mas, olhando para a história, justamente pela capacidade que se entendeu que o Nordeste tem para alavancar o desenvolvimento também do País. Não se consegue desenvolver, alcançar índices satisfatórios de desenvolvimento, se não fizer esse olhar, essa visão específica para as necessidades do Nordeste”, afirma. 

“É de se esperar que, a partir de agora, do próximo governo, esse cenário se repita e que a gente possa ter a região contemplada com várias políticas que possam alavancar o desenvolvimento do país”. 

A escolha de lideranças consolidadas da região – entre os quais ex-governadores, governadores e uma vice-governadora – se soma, portanto, a esta expectativa já criada sobre o Governo Lula. Para Luciana Santana, as indicações de ministros nordestinos indicam exatamente que “políticas públicas voltadas para o Nordeste também serão prioridade no governo eleito”. 

Para a cientista política, investimentos em infraestrutura, educação e desenvolvimento social devem ser algumas das áreas que ganham destaque na próxima gestão federal por conta da representação nordestina na Esplanada dos Ministérios. 

Robson Carvalho acredita que os estados devem apontar as principais obras estruturantes que estão à espera de recursos do Governo Federal. 

“Cada estado deve indicar suas prioridades em torno de três obras principais de Infraestrutura para que o Governo Federal possa atender. Então, esse é um ponto importante porque são obras que geram impacto na circulação de emprego e renda. E também obras estruturantes que são fundamentais para os estados – quem sabe fazer de uma vez por todas a TransNordestina, para escoar a produção do Nordeste”, finaliza.

Fonte:https://diariodonordeste.verdesmares.com.br

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