O que está em jogo na disputa pela presidência da Câmara Municipal de Fortaleza
Especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste avaliam que a movimentação visa a sucessão municipal em 2024
Foto-Reprodução
Os vereadores de Fortaleza intensificaram na última semana as articulações de bastidores de olho na presidência da Câmara Municipal (CMFor). A disputa pode colocar em lados opostos a Prefeitura e o Governo do Estado, como fator de influência para indicar o próximo parlamentar a comandar a Casa.
Especialistas alertam que a medição de forças agora será um trabalho de base crucial na sucessão na Prefeitura da Capital, em 2024.
Por um lado, o caminho considerado “natural” é que o PDT, que tem a maior quantidade de parlamentares na Casa, e que hoje já governa Fortaleza, tente a reeleição daqui há dois anos. O grupo que elegeu Elmano de Freitas (PT) governador, no entanto, já discursa pelo lançamento de uma candidatura em oposição ao PDT.
Especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste destacam a importância dessa eleição legislativa, uma vez que presidir a Câmara representa maior cacife político quando forem formadas as bases de apoio na campanha para Prefeitura em 2024. O elemento novo, no entanto, é a divisão de antigos aliados em âmbito estadual, mas que nas últimas eleições acabaram rompendo, e lançando candidatos na disputa pelo Governo do Ceará.
Nesse sentido, o PT saiu fortalecido com a eleição de Elmano de Freitas ao Palácio da Abolição. Por outro lado, o grupo do prefeito Sarto liderado pelos irmãos Ferreira Gomes sofreu uma derrota após o seu candidato, o ex-prefeito Roberto Cláudio, ficar em terceiro lugar na disputa.
CABO DE GUERRA NA CÂMARA
Nessa equação, os vereadores Gardel Rolim (PDT), que é líder do prefeito José Sarto (PDT) na Câmara e Léo Couto (PSB), vice-líder, podem disputar no voto o cargo de presidente da Câmara Municipal de Fortaleza.
Enquanto Gardel é o indicado do prefeito e tem apoio de ao menos nove dos 10 vereadores do PDT, Léo Couto integra o núcleo próximo do Governo do Estado, uma vez que é próximo do governador eleito Elmano de Freitas e do ex-governador Camilo Santana, ambos do PT.
Nos bastidores, grupos de parlamentares se movimentam entre as duas candidaturas, incluindo os de oposição. A avaliação é de que o próximo presidente, para ser eleito, terá que ter, necessariamente, o apoio de um desses grupos.
ANÁLISE
“O presidente da Câmara é responsável por colocar adiante toda a pauta do legislativo, ele quem faz as articulações e as discussões nas comissões, além de conseguir dar encaminhamento ao trabalho legislativo”, analisa a cientista Política Paula Vieira.
Ela avalia ainda que o grupo ligado ao prefeito Sarto saiu enfraquecido das últimas eleições, uma vez que os candidatos ao Governo Roberto Cláudio e à Presidência da República Ciro Gomes foram derrotados.
A especialista pontua também a importância da distribuição dos cargos na próxima legislatura que, de acordo com a análise, já deverão ser negociados nesse estágio das tratativas.
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Além dos cargos que ocupam a mesa, a professora destaca que as presidências das comissões também são “peças no tabuleiro”, já que os vereadores têm interesse em presidir esses grupos específicos, com foco na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), por onde passam as matérias mais importantes da Casa.
O sociólogo Jonael Pontes reflete sobre como a movimentação para a sucessão na Câmara pode impactar nas eleições municipais em 2024. Para ele, é crucial que os grupos interessados em disputar a Prefeitura de Fortaleza comecem a se fortalecer de agora.
“Ter uma aliado na Câmara melhoraria exatamente essa articulação, inclusive na campanha. Porque você tem uma pessoa que vai trabalhar em prol do candidato, então penso que essa articulação fortaleceria o Sarto para uma reeleição, por exemplo. Nesse sentido, o capital político é explorado sobretudo pelas posições que os políticos ocupam”, destaca.
Ele completa que “os vereadores de fato são essas figuras que estão mais próximas dos bairros, é uma coisa mais setorizada, você tem uma atuação política mais próximo às comunidades e aos líderes e associações”.
LEGENDA: VEREADORES LÉO COUTO E GARDEL ROLIM DISPUTAM OS VOTOS DOS COLEGAS VEREADORES NA DISPUTA PELA PRESIDÊNCIA DA CÂMARAFOTO: ÉRIKA FONSECA/CMFOR
O QUE DIZEM OS VEREADORES
Pelo regramento da Casa, as chapas podem ser registradas até momentos antes da eleição da Mesa Diretora, que ocorre no dia 1º de dezembro. Além do presidente, a composição é feita por três vice-presidentes, três secretários e três suplentes. Com isso, ainda não há candidatura formal, apenas movimentações para garantir a votação.
Gardel Rolim defende que o momento é de diálogo, e não descarta a possibilidade em construir um consenso em torno de sua candidatura. O parlamentar diz ainda que tem intenção de construir uma Mesa que “represente as mais diversas forças da Câmara”.
O parlamentar vem se encontrando com os colegas para formar a base de apoio. De acordo com uma contagem própria, a sua pré-candidatura teria, atualmente, o voto de ao menos 28 parlamentares, incluindo membros da oposição.
Léo Couto, por sua vez, também defende que até o dia da eleição possa se encontrar e conversar com seus pares para angariar votos. Ele também não descarta que sua candidatura possa ser um consenso na Casa.
“Eu estou construindo uma candidatura dentro da espinha dorsal que veio na última campanha de governador, junto com PT, PSOL e PSB. Estamos conversando com todos. Eu sou um homem do diálogo, estou dialogando com os fatos”, destaca o parlamentar.
Questionado sobre a movimentação de Gardel em já demonstrar força contando com 28 votos, ele minimiza e destaca o processo até o dia da eleição.
“Essa condução é normal, essa formação dos grupos faz parte do jogo político. Faz parte de uma eleição de mesa, o que vale é no dia”, pontua.