Shoppings do Ceará temem possível calote da Americanas e até fechamento das lojas
Piora na situação fiscal da varejista deixa gestores de shoppings em alerta. Já há quem pense em pedido de despejo, caso a empresa não honre pagamento de aluguéis
Foto- Helene Santos/Diário do Nordeste/Arquivo
Os gestores de grandes shopping centers do Ceará estão extremamente preocupados com a situação financeira das Americanas.
Esta Coluna ouviu, nos últimos dias, três superintendentes de alguns dos mais importantes shoppings do Estado. Diante do derretimento dos números da tradicional varejista após o escândalo fiscal deflagrado neste mês, parte dos executivos já começa a se preparar para o pior cenário, o de calote no pagamento dos aluguéis, que poderia culminar no fechamento das lojas.
“Até agora, estão em dias, mas já estamos em alerta sobre o próximo mês. Será que eles vão ter dinheiro para honrar? São muitos credores”, diz o executivo de um shopping de Fortaleza.
ESTADO DE ALERTA
Experiências negativas com a Ricardo Eletro e outras varejistas que quebraram ou enfrentaram crises severas deixam os administradores em estado de vigilância.
Caso a Americanas comece a atrasar pagamentos, ante o quadro de dívidas de mais de R$ 40 bilhões e das incertezas sobre o futuro do negócio, entre os superintendentes consultados, há quem cogite entrar rapidamente com pedido de despejo. Eventuais fechamentos de unidades da empresa também não surpreenderiam os shoppings.
Até mesmo no curto prazo, é forte o pessimismo com o horizonte da companhia, que tem como acionistas majoritários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.
LOJAS DE MAIS DE 3 MIL M²
A apreensão é proporcional ao tamanho dos espaços ocupados pela gigante do varejo. A Americanas está entre as maiores operações, considerando a área, em vários shoppings do Ceará.
Há lojas com mais de 3 mil metros quadrados. São 70 unidades em todo o Ceará, das quais mais de 20 estão em shopping centers de diferentes portes. Nos pontos mais tradicionais, a Americanas mantém presença há décadas, sempre figurando entre as mais importantes âncoras.
Outro executivo, apesar da preocupação, afirma ser “prematuro” pensar em calote agora. “Estamos temerosos sobre atrasos de pagamentos, mas é preciso antes conversar (com a empresa) e negociar. Vamos esperar”, diz.
Segundo as fontes, uma eventual saída da empresa, por mais lamentável que seja, não comprometeria o desempenho dos centros comerciais. Pelo menos não no caso dos grandes empreendimentos. Estes vêm apresentando um nível de ocupação robusto, deixando para trás os danos da pandemia.
Já em shoppings e centros comerciais de menor envergadura, o impacto pode ser mais relevante.
DÍVIDAS NO CEARÁ
A Americanas acumula uma lista de mais de 100 credores no Ceará, entre empresas, pessoas físicas e prefeituras. São mais de R$ 28 milhões em débitos.
O maior credor das Americanas no Ceará é a Grendene, indústria de calçados sediada em Sobral. A dívida da varejista apenas para esse credor chega a R$ 10,1 milhões.
Outras empresas cearenses conhecidas figuram na lista, como Hapvida, M Dias Branco e Brisanet, além da Cagece e da Coelce. São 87 empresas, incluindo segmentos como alimentação, saúde, construção civil, telecomunicações e têxtil.