Trombectomia mecânica: como o HGF se tornou protagonista na implantação do procedimento no SUS

scom HGF – Texto e Fotos

A trombectomia mecânica (TM), método avançado para tratamento de Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico agudo, foi oficialmente incluída na tabela de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) na última semana, após publicação da Portaria 1.996/23 do Diário Oficial da União. O Hospital Geral de Fortaleza (HGF), que já realiza o procedimento desde 2016, é uma das doze unidades aptas a receber o recurso federal. A expectativa do equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) é dobrar o número de pacientes tratados pelo método nos próximos meses.

A TM é um procedimento de alta complexidade, minimamente invasivo e realizado sob sedação em sala de hemodinâmica. Por meio de punção na virilha, o neurorradiologista guia um catéter até localizar o trombo que oclui o vaso no cérebro. Uma vez encontrado, são duas técnicas possíveis: o stent retriver, que puxa o trombo como uma espécie de saca-rolhas; e a aspiração, que suga o trombo para dentro do catéter.

A principal vantagem da trombectomia mecânica, esclarece o neurroradiologista do HGF, Francisco Mont’Alverne, é a ampliação do tempo disponível para tratamento do AVC isquêmico agudo sem sequelas. “O trombolítico intravenoso tradicional funciona muito bem como uma espécie de solvente para dissolver coágulos, sobretudo nas primeiras horas. O problema é que ele só tem eficácia até quatro horas e meia após os primeiros sinais do AVC. Com a TM, a gente expande esse período para até 24h em pacientes que não apresentam sinais de infarto cerebral”, explica o médico.

Além do tempo, outros fatores contribuem para o sucesso dos resultados da TM. Enquanto o procedimento tradicional do trombolítico intravenoso tem contraindicações comuns como gravidez e históricos de AVC e infarto do miocárdio recente, a trombectomia mecânica possui raras situações de impedimento. “Há quase dez anos realizando essa técnica, nunca tivemos um caso de contraindicação”, garante Mont’Alverne.

Estudo Resilient

Em 2017, o Ministério da Saúde deu início ao financiamento do estudo Resilient para comprovação científica da trombectomia mecânica no Brasil. O HGF, que já realizava o procedimento desde o ano anterior, foi um dos protagonistas no desenvolvimento da pesquisa. “O HGF foi fundamental no estudo porque recrutou mais de 50% dos pacientes, um trabalho árduo no qual estivemos disponíveis 24h”, afirma o médico.

O resultado positivo, que levou à incorporação do procedimento pelo SUS, foi publicado em 2020, pela revista The New England Journal of Medicine, uma das revistas médicas científicas mais importantes do mundo. Entre os destaques, duas vezes mais chances do paciente de sair independente do hospital, sem sequelas e com menos complicações.

“A TM é um dos mais poderosos tratamentos já demonstrados cientificamente na Medicina em termos de redução de sequelas. Diria que tem mais poder em reduzir sequelas do que um antibiótico tem de reduzir mortalidade por infecção”, enfatiza o Mont’Alverne.

Além da efetividade clínica, o estudo Resilient conseguiu mostrar que a trombectomia mecânica, apesar de ser um procedimento de alto custo, tem, também, um retorno financeiro para o Estado. “Com um montante menor investido em reabilitação, nova hospitalização e previdência social, a gente tem um payback garantido”, pontua o neurorradiologista.

Expectativa é dobrar número de procedimentos

O Hospital Geral de Fortaleza deu início à realização da trombectomia mecânica em 2016 com recursos próprios. Entre 2017 e 2019, os procedimentos foram custeados pelo Ministério da Saúde mediante o estudo com apoio da Secretaria da Saúde do Ceará. De 2020 até então, o Governo do Estado do Ceará vem assumindo a conta. Com o suporte do Governo Federal, a expectativa é que o número de pacientes a realizar a TM possa dobrar nos próximos meses.

“Isso é possível porque temos plantonistas e maquinários disponíveis 24h por dia para realização do procedimento no HGF, além de uma equipe multiprofissional especializada para receber o paciente desde a porta da Emergência até a reabilitação”, reforça Mont’Alverne.

O HGF é referência no Norte e Nordeste no tratamento de doenças neurológicas de alta complexidade, em especial o AVC. Cerca de 2 mil pacientes são recebidos anualmente pela Emergência de porta aberta 24h, ou por meio de encaminhamento de outras unidades de saúde para tratamento de AVC agudo. A unidade possui 20 leitos de internação para AVC isquêmico e é o único equipamento do Brasil a possuir uma enfermaria para AVC hemorrágico, com 15 leitos disponíveis.

Fonte da matéria:https://www.ceara.gov.br

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