‘Barbie dos animais’: MP não denuncia médico e pede mais diligências sobre morte da veterinária
Para a Polícia Civil, o médico Valderi Vieira da Silva Júnior é responsável pelo homicídio culposo (sem a intenção de matar) de Kelly.
Foto: Reprodução
O Ministério Público do Ceará (MPCE) pediu mais diligências a partir do inquérito que apontou o médico cirurgião plástico Valderi Vieira da Silva Júnior como autor de um homicídio culposo que vitimou a médica veterinária Kelly Linhares Pedrosa, conhecida como “Barbie dos animais”. Há cerca de um mês, a investigação foi concluída e remetida para o órgão acusatório ofertar ou não a denúncia contra o médico.
Semanas depois, o MP listou diligências que devem ser cumpridas em até 90 dias. Dentre os pedidos, estão a reinquirição do investigado, oitiva de testemunhas de defesa, oitiva de um médico perito, cópia integral do prontuário médico da vítima e o encaminhamento de cópia integral da sindicância protocolada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec).
Os advogados assistentes de acusação, Henrique Gonçalves de Lavor Neto e Rafael Gonçalves Mota, consideram que a realização “das novas diligências no inquérito policial é de crucial importância, pois reforça a convicção de que a conduta praticada pelo médico investigado é caracterizada por dolo eventual”.
Já a defesa do médico, representada pelo advogado Hélio Leitão, diz que a requisição do MP é um indicativo que o órgão precisa de novos elementos de prova. “A defesa quer um esclarecimento da verdade na sua inteireza. Não temos dúvida da inocência do dr Valderi”.
O QUE DISSE A INVESTIGAÇÃO
Para a Polícia Civil, o médico Valderi Vieira da Silva Júnior é responsável pelo homicídio culposo (sem a intenção de matar) de Kelly. A médica veterinária morreu em abril de 2022, em Fortaleza, após se submeter a cirurgias plásticas com Valderi. Agora, a família pede celeridade para ser “feita Justiça” no caso, enquanto a defesa do médico alega que “a informação de qualquer tipo de erro médico na condução da cirurgia e dos pós-operatório da paciente, não procede”.
A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso a um laudo pericial onde consta que Kelly teve uma perfuração no intestino. A veterinária era adepta a cirurgias plásticas e horas antes de morrer passou por procedimento de grande porte. Ela teve dores na barriga e falta de ar após a intervenção cirúrgica e foi novamente hospitalizada.Consta nos documentos que Kelly estava em estado gravíssimo quando foi socorrida por outros profissionais.
“LEVOU A VIDA DA MINHA FILHA”
Maria de Jesus Linhares Pedrosa, mãe da vítima, pede Justiça pela morte da filha e que o médico tenha o registro suspenso: “tentamos parar um profissional que levou a vida da minha filha. Uma moça na flor da idade, profissional gabaritada, mãe de duas crianças. Ela tinha problema renal e foi submetida a múltiplos procedimentos. Uma atitude de imprudência do médico que jurou salvar pessoas e não colocar pacientes em perigo”.
Quando a vítima voltou a ser hospitalizada, passou por uma tomografia que indicou pneumoperitônio e líquido livre, sugerindo a lesão de alça e extravasamento de líquido na cavidade abdominal. Ela precisou ser submetida a uma cirurgia de urgência para retirar o líquido do abdômen decorrente da perfuração intestinal e em menos de 24 horas morreu.
A causa da morte foi declarada como choque hemodinâmico refratário devido a uma infecção generalizada, com fonte provável a lesão no abdômen. O cirurgião que fez a última cirurgia para socorrer a paciente localizou a perfuração no intestino da vítima.
Em junho de 2022, a Perícia Forense do Ceará (Pefoce) emitiu laudo e destacou não caber ao perito julgar se houve ou não erro médico nos procedimentos, sendo “este julgamento de responsabilidade do Conselho Regional de Medicina”. A defesa de Valderi acrescenta que o médico e a equipe dele “lamentam profundamente o ocorrido e se põem à disposição para maiores esclarecimentos necessários”.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec) instaurou sindicância para apurar a conduta na seara administrativa. No dia 26 de outubro, o Conselho respondeu que a sindicância segue em tramitação, sem especificar a atual fase. A reportagem entrou em contato com o Conselho a fim de saber sobre a sindicância, mas não teve resposta.